Silvio de Abreu é o responsável por escolher a primeira novela da HBO Max para corrigir ‘erro’ cometido na Globo.

Silvio de Abreu migrou para HBO Max, o veterano era um dos autores medalhões da Globo e depois foi promovido a chefe de Dramaturgia da emissora, onde as novelas atuais como “Um Lugar ao Sol”, “Quanto Mais Vida, Melhor” e “Além da Ilusão”, foram as últimas de sua gestão.

O autor foi responsável por lançar vários nomes de autores na teledramaturgia da Globo e repaginar as tramas com histórias mais folhetinescas, sem grandes pretensões o que acabou desagradando a alta cúpula da emissora que por fim chegou ao desligamento de Silvio de Abreu.

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Aos 79 anos, o veterano não pensa em se aposentar e decidiu migrar para a maior concorrência da Globo no streaming, a HBO Max, vista como maior rival do Globoplay. Após uma passagem de 42 anos na emissora carioca, Silvio de Abreu se tornou a cabeça pensante por trás das chamadas telesséries da plataforma de streaming.

Na nova empresa, Silvio de Abreu pretende corrigir um erro perpetuado durante anos na TV aberta, inclusive sob sua gestão, que é a repetição de cenas pela longa duração e a escalação de atores equivocadas.

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“Se a gente percebe que o ator não é adequado para aquele papel nos ensaios, a gente simplesmente pode trocar ele antes de começar a gravar. Coisa que em novela é impossível”, cutucou o autor a sua antiga emissora em entrevista ao Notícias da TV.

HBO MAX APOSTA EM AUTOR DESCONHECIDO

Raphael Montes foi o nome escolhido para escrever a primeira telessérie da HBO Max. O autor tem no currículo a série brasileira “Bom Dia, Verônica” (2020), da Netflix, sua única experiência como autor de streaming.

Acusado de ter preconceito com o gênero de novela por não usar esse termo em seu projeto, o autor Raphael Montes, que também participou do bate papo ao lado de Silvio de Abreu, explicou sobre a mudança do termo ‘novela’ para ‘telessérie’, que nada mais é que uma clássica novela, só que de curta duração.

“A partir da hora que a gente vai fazer um folhetim, que é a base da novela, em um streaming, que as pessoas vão escolher a hora que assistir, isso já te economiza uns cem capítulos. Isso fará a história ser desenvolvida de forma natural. Essa é a principal diferença, o veículo. Não é um produto de TV aberta. É um produto em um streaming”, defendeu Silvio de Abreu.

“Segundas Intenções” é a nova série da HBO Max que tem previsão de estreia para o segundo semestre e terá direção de Joana Jabace, outro nome ex-Globo. Silvio de Abreu atua como supervisor dos projetos, mas não só no Brasil. Enquanto orienta Raphael Montes, ele se reúne com outros nomes na América Latina. Entre eles está Cris Morena, autora da versão original de “Chiquititas”, que foi sucesso no Brasil pelo SBT.

AUTOR LEVOU ELENCO DA GLOBO

No elenco da telessérie da HBO Max já estão confirmados nomes como o de Camila Pitanga e Murilo Rosa. Porém, Antonio Fagundes já tem negociações avançadas e deve assinar contrato nas próximas semanas. Uma nova atriz será lançada após um concurso no “Faustão na Band”.

Outra parte do elenco está passando por testes, com escolha direta de Silvio de Abreu e do autor, Raphael Montes. Ambos defendem a ideia de priorizar o perfil do personagem em vez de um nome de peso, conhecido do público.

“Nós não queremos nenhum elenco famoso. Nós queremos um elenco adequado. Atores de série nem são tão conhecidos. É diferente do que o público de TV aberta procura, é um outro mundo. Queremos um elenco adequado, de categoria. Nós vamos ter tempo de fazer. Não é uma experiência melhor e pior. É apenas diferente”, afirmou Silvio de Abreu.

“Concordo com o Silvio, mas gostaria de dizer que essas mudanças não serão exatamente quando já estiver tudo gravado. Podem ser nas leituras de montagem de elenco. Quando for ouvir a voz de algum ator, e ela não estiver adequada, a gente pode substituir”, destacou Raphael Montes.

“É isso. Se a gente percebe que o ator não é adequado para aquele papel nos ensaios, a gente simplesmente pode trocar antes de começar a gravar. Coisa que em novela é impossível. A gente tendo um número menor, de 40 capítulos, pode comandar o projeto inteiro. Em novela, escrevo 30 capítulos e a novela entra no ar. Só vejo se um ator está bom no ar e depois eu mexo”, cutucou Silvio de Abreu, frisando que na Globo isso era impossível de acontecer.

SILVIO DE ABREU EXPLICOU MUDANÇAS DA TV ABERTA PARA O STREAMING

O veterano está muito satisfeito por estar trabalhando em um projeto novo, vivendo uma nova experiência, visto que produzir telesséries é diferente de produzir uma novela.

“É completamente diferente porque a novela é um produto feito para a TV aberta. Na TV aberta, essa novela passa em um determinado horário que vai obrigar a pessoa a estar na sua casa naquele horário. Muito bem: quando a pessoa perde um capítulo, ela fica sem saber o que está acontecendo direito. Por isso, os autores são obrigados a ser retroativos. Ele fala um assunto, depois ele repete o assunto e depois repete de novo. Porque a gente sabe que, mesmo quem vê novela todo dia, assiste a três capítulos por semana, e a gente não sabe qual capítulo elas assistiram”, explicou o novo chefão da HBO Max, falando sobre o motivo das novelas repetirem cenas.

“A partir da hora que a gente vai fazer um folhetim, que é a base da novela, em um streaming, que as pessoas vão escolher a hora que assistir, isso já te economiza uns cem capítulos. Isso fará a história ser desenvolvida de forma muito natural. Essa é a principal diferença, o veículo. Não é um produto de TV aberta. É um produto em um streaming, para ele assistir na hora que ele quiser, quando quiser, quando ele tiver um tempo. Nós que escrevemos não precisamos ser repetitivos. Isso é a diferença básica”, pontuou Silvio de Abreu.

“Claro que o folhetim pode ser comédia, que eu já fiz muitas na Globo, pode ser épico, como Benedito Ruy Barbosa já fez vários. Mas nós decidimos fazer um melodrama. Tanto por uma questão de gosto pessoal do Raphael e minha, e porque é a base do folhetim. A base do folhetim é o melodrama. E o que mais se usa nas grandes novelas é a vingança. Porque as pessoas torcem para que se faça justiça com quem foi injustiçado”, comparou o veterano autor.

HISTÓRIA DE SEGUNDAS INTENÇÕES

A primeira aposta em dramaturgia da HBO Max no Brasil, já está mexendo com o mercado, visto que o Globoplay já prepara a novela “Olho Por Olho”, de João Emanuel Carneiro para ser exibida na plataforma no segundo semestre, concorrendo indiretamente com “Segundas Intenções”. O autor Raphael Pontes contou detalhes da história do folhetim.

“Uma das características da minha obra, seja nos livros ou em outros trabalhos que já fiz, é a busca por justiça. O que é justiça? Isso me interessa, eu sou advogado de formação. E o outro tema que me interessa e que a gente vai explorar muito em Segundas Intenções é a busca pela riqueza. A questão da ascensão social, da diferença de classes”, resumiu o novo contratado da HBO Max.

“Aqui nós temos uma diferença muito grande de geração. Tenho 80 anos, e o Raphael tem 30 e poucos. Então, tem 50 anos no meio da gente. Fiz inúmeras novelas, mais de 20 novelas. E o Raphael, apesar de ele ter visto novela, é muito mais de série. E muitas coisas que eu quero fazer, ele acaba achando repetitivo. E muitas coisas que ele escreve, eu acabo achando precipitado. Essa é uma divisão de produto. É como se eu contasse a história para ele, ele contasse a história para ele, ele contasse a história para mim, e a gente junta tudo em uma terceira coisa”, contou Silvio de Abreu sobre como está sendo trabalhar com o jovem autor.

“E acho que a gente está, acima de tudo, se divertindo. Não dá para você fazer, e eu nunca fiz nada na minha vida, para acertar. Converso isso com o Silvio algumas vezes. Essa resposta ninguém tem. Sempre penso se eu iria me divertir vendo isso, se iria gostar. O primeiro espectador é o autor. Tenho um segundo espectador de luxo que é o Silvio, que lê tudo o que eu escrevo”, acrescentou Raphael Montes.

“Segundas Intenções”, será apenas o primeiro projeto da HBO Max no Brasil, a empresa pretende apostar em várias telesséries para fisgar o público que gosta de um bom folhetim, mas que não se vê mais preso em um horário fixo na TV aberta e essa é a grande aposta da plataforma de streaming.