Durante algumas semanas, há 20 anos atrás, o professor Jair Hermínio da Silva se tornou uma das pessoas mais famosas do Brasil e recebeu enorme torcida, por ter chegado a última pergunta do Show do Milhão.

Apenas seis participantes haviam ido tão longe na atração do SBT, porém o aposentado foi o primeiro a tentar respondê-la, e errou. Após duas décadas, o Homem Enciclopédia, como foi nomeado na época por Silvio Santos, quer retornar a TV.

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“Quantas letras contém a escrita da bandeira nacional brasileira?” foi a pergunta do milhão, gravado em dezembro de 2001 e somente transmitido em 27 de fevereiro de 2002. Jair fez a conta na cabeça e respondeu de prontidão: 16 letras. “Ordem e Progresso”, contudo, tem 15 letras. O professor de língua portuguesa perdeu tudo que havia conseguido no programa e saiu com apenas R$300, quantia paga a todos os participantes.

Jair Hermínio da Silva foi encontrado pelo site Observatório da TV e o entrevistou via telefone um dia antes do aniversário de sua glória e derrocada em participação na TV. Prestes a chegar aos seus 78 anos no dia 13, ele lecionou por mais de 50 anos e assinou uma coluna em um jornal de Guaxupé, cidade de Minas Gerais onde mora. Muito conhecido na região, e com fama nacional por sua inteligência por acertas questões muito complexas no Show do Milhão. “Acertei coisas que nem professores de História sabiam. Conheço um pouco de grego, árabe. Isso me ajudou muito em certas questões. Achei super fácil”, recordou.

Animado com o Homem Enciclopédia, Silvio Santos determinou dividir a participação do professor em dois programas. O aposentado só ficou sabendo da pergunta do milhão na segunda gravação, o que, segundo ele, prejudicou seu desempenho. A enorme torcida do dono da emissora e a grande pressão para responder em 20 segundos também atrapalharam a resposta.

“Silvio Santos que botou esse apelido de ‘Homem Enciclopédia’. Ele estava louco para dar o prêmio porque falou que o povo pensava até que era marmelada, porque ninguém ganhava. Falava: ‘Você vai ganhar, porque você merece!’. Ele me elogiou demais, mas foi meio exagerado (risos). Não tenho frustração nenhuma, adorei participar. A última pergunta nem tinha conhecimento específico, mas só tinham 20 segundos e passam mil e uma coisas na cabeça da gente. Não é que perdi porque não sabia. Acho que o problema era que a pergunta era muito fácil”, avalia.

Jair Hermínio da Silva explica por que não parou com R$500 mil e confundiu “Ordem e Progresso” na pergunta final: “Não parei justamente porque a pergunta era muito fácil. Se fosse difícil, eu pararia, ou talvez se até soubesse, mas como era fácil falei: ‘Era mais feio parar’. Quantas letras tinha na frase da bandeira, quem não sabe isso? Mas no dia eu pensei imediatamente em ‘Independência ou Morte’, aquela frase do Dom Pedro I, misturei ‘e’ com ‘ou’, e deu no que deu”.

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Apesar do nervosismo, ele não se deixou cair em desespero pelo milhão não obtido, diferentemente de como sua amiga reagiu, Maria José de Camargo, que comprou a revista do SBT para inscrever o professor, e dividiria o prêmio com ele. “Vou te matar, Jair! Perdemos tudo!”, disse ela, puxando os cabelos. A amiga do professor foi diretora da escola onde Jair lecionava, e morreu há aproximadamente cinco meses.

Jair gostaria de voltar a participar de um programa de perguntas e respostas. “Eu assisto bastante ao Luciano Huck, aquele The Wall, semana passada foi o dia mais fácil de todos, não errei uma pergunta! Estava tudo muito fácil! Eu não fiz inscrição, mas tenho vontade sim [de participar]. Mas fazem muitas perguntas sobre a Globo, quem fez tal papel na novela, isso é muito chato. Façam perguntas inteligentes, de conhecimento geral, coisas interessantes! Por exemplo, de história, geografia, língua”, sugere.